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Robert Shiller, prêmio Nobel de Economia, em entrevista à Bloomberg, disse acreditar que estamos passando por uma situação semelhante à época de descoberta de armas nucleares. Em 1949, quando os russos testaram pela primeira vez a bomba atômica, houve um êxodo para regiões suburbanas dos EUA. Imaginava-se que os grandes centros seriam os primeiros alvos em uma possível guerra nuclear. O momento atual guarda algumas semelhanças, segundo Shiller! Os grandes centros também são os que apresentam maiores índices de infecção. O êxodo urbano já está acontecendo e tudo indica que pode ser uma tendência pós-covid.

Êxodo urbano e o impacto no mercado imobiliário
Pessoas estão deixando os grandes centros para morar em regiões suburbanas, com menor densidade demográfica

Não é apenas o receio do vírus que motiva moradores a deixarem os grandes centros. Segundo Shiller, os principais fatores que tornam as regiões urbanas desejáveis remetem a focos de aglomerações, como jantar em bons restaurantes, ir ao cinema, frequentar shows, bares e clubes noturnos. Esse tipo de entretenimento perde o apelo em meio à pandemia. “É possível que haja sim uma transição para o interior, especialmente se você está trabalhando de casa – se isso se tornar o novo normal, você não precisará se preocupar com o deslocamento”, diz Shiller.

Shiller ainda acrescenta que, mesmo com uma migração em massa, os preços dos imóveis nestas regiões suburbanas não seriam tão pressionados, uma vez que há terreno de sobra para novas construções. Este pensamento, no entanto, já se mostrou equivocado no passado, principalmente em regiões centrais da Flórida, no entorno de Orlando.

As regiões e cidades suburbanas de Orlando, na chamada Greater Orlando, apesar de oferecerem grandes áreas livres, não foram capaz de fazer frente à grande demanda mundial por imóveis na região. Com um fluxo crescente de turistas e profissionais para a região (mais de 75 milhões de pessoas visitam Orlando todos os anos), as chamadas Vacation Homes (Casas de Férias) passaram a ser o investimento ideal de quem busca retorno com aluguel em dólar. Até hoje as construtoras locais não conseguiram satisfazer a demanda existente. E todos os anos o fluxo de pessoas para a Terra do Mickey só aumenta.

Mercado imobiliário na Flórida já percebe transformação

No estado da Flórida, que entrou na Fase 2 de reabertura no último dia 5 de junho, essa transformação no comportamento de moradores e investidores já é visível.

Alguns fundos imobiliários já estão de olho em regiões suburbanas de Miami, como Weston e Doral. Cidades ao norte de Miami, como Boca Raton e Palm Beach também estão na mira dos grandes developers.

Weston – Região próxima de Miami com uma das melhores qualidades de vida da Flórida

O fluxo de pessoas também leva, por consequência, os espaços de escritórios para longe. Raoul Thomas, CEO da CGI Merchant Group, empresa de private equity sediada no bairro de Brickell, em Miami, aposta no crescimento de espaços corporativos satélites, em regiões suburbanas. O novo formato de trabalho transformaria os escritórios satélites em ponto de apoio a funcionários e colaboradores, que também poderão trabalhar em suas casas, com mais qualidade de vida e protegidos de aglomerações. Esta tendência já é vista em países asiáticos, que foram os primeiros a sofrerem com a crise do coronavírus.

Região Central da Flórida: Preço médio das casas em Orlando sobe 7%

A região central da Flórida tem percebido uma demanda cada vez maior por casas single-family. A região foi praticamente invadida por moradores de Nova Iorque, cidade mais afetada pelo vírus. Casas a venda no entorno de Orlando, em cidades como Windermere, são as mais desejadas.

Casas em Orlando e em cidades na Região Central da Flórida são ideais para refúgio em tempos de pandemia
Casas em Orlando e em cidades na Região Central da Flórida são ideais para refúgio em tempos de pandemia

Segundo relatório divulgado pela Orlando Regional Realtor Association, o preço médio dos imóveis em Orlando valorizou 7% em maio de 2020, comparativamente a maio de 2019. Mesmo em meio a pandemia, o mercado continua consistente.

Tendência mundial

A tendência de êxodo urbano já é vista em muitos países durante a pandemia. As economias asiáticas foram as primeiras a instalar escritórios satélites em regiões suburbanas, para dar apoio a seus funcionários e colaboradores, que passaram a trabalhar, a maioria do tempo, no formato de home-office. Além dos EUa, Peru, Índia e alguns países africanos seguem também na mesma tendência.

No Brasil a XP Investimentos já declarou que as flexibilizações no formato de trabalho e a adoção do home-office em suas operações pode se tornar permanente. A XP também pensa em construir escritórios satélites no interior para dar suporte a seus funcionários e colaboradores.