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A cotação do real está muito próxima da mínima histórica frente ao dólar, o que pode alimentar uma expectativa de valorização da moeda no futuro próximo, na busca por um equilíbrio. Contudo, ao analisarmos os fundamentos da economia brasileira hoje, o cenário é bastante incerto. Projeções do real frente ao dólar estão cada vez mais difíceis de serem feitas. Nos últimos 10 anos o real só desvalorizou frente ao dólar mesmo diante de previsões contundentes de economistas renomados que previam o contrário.
Fim da pandemia não é o principal fator
Há quem diga que o real valorizará com a chegada das vacinas e o “início do fim” da pandemia. Contudo, ao analisarmos os fundamentos econômicos do Brasil antes da pandemia em comparação ao cenário de hoje, estamos muito pior. A dívida pública brasileira está próxima de 100% do PIB. Antes da pandemia estava aproximadamente 80% do PIB e o dólar já estava próximo de 5 reais. Não faz muito sentido, portanto, do ponto de vista dos indicadores macroeconômicos, prever que o dólar cairá com o fim da pandemia.
Aumento da taxa básica de juros – SELIC
Com a dívida pública nas alturas é quase consenso de que o Banco Central aumentará a taxa básica de juros. Este sim pode ser um fator favorável à valorização do real no curto prazo, já que juros maiores atraem capital especulativo. Mais dólares entrando no país significa um real mais forte. Contudo, a longo prazo, juros maiores impactam negativamente a economia, já que espantam investimentos diretos (de qualidade), o que poderia, em um segundo momento, desvalorizar o real.
A má notícia é que não só o Brasil está prestes a aumentar sua taxa básica de juros. A maior economia do mundo, os EUA, também. Com o novo pacote de estímulo à economia americana, preparada pelo novo presidente Joe Biden, é esperado um aumento na inflação dos EUA. Para frear a pressão inflacionária, os EUA tenderão também a subir os juros. Com isso, as aplicações em países emergentes, como o Brasil, perdem apelo.
Reformas
Do ponto de vista político, o Brasil precisa andar com as reformas administrativas e tributárias. Estas sim seriam medidas que transmitiram ao mercado nacional e internacional uma expectativa de melhora da economia, atraindo investidores. Com o Congresso “na mão” do presidente após as últimas eleições, as reformas estariam, teoricamente, mais fáceis de serem aprovadas. Resta saber se haverá vontade política para isso.
Brasileiros buscam proteção no exterior comprando imóveis nos EUA
Ontem o jornal O Estado de São Paulo trouxe um artigo muito interessante sobre o aumento da busca de brasileiros por imóveis nos EUA e Portugal, apesar da pandemia. O real desvalorizado não parece ser um obstáculo. Ao contrário! Brasileiros estão cada vez mais conscientes da necessidade de atrelar parte do patrimônio a uma moeda forte, de olho no longo prazo e diante de um cenário político-econômico interno sombrio.